sexta-feira, 15 de maio de 2009

Manifesto em defesa do samba

O povo belorizontino está em luta mas ainda não está de luto: quer devolver a escola de samba mais premiada e vitoriosa de seus carnavais, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Cidade Jardim, ao tradicional galpão construído com seus próprios recursos, o qual ela ocupou durante mais de 30 anos no Conjunto Santa Maria, Zona Sul da cidade.

Em 19 de agosto passado, a Prefeitura, de surpresa e rompendo acordo feito 15 dias antes, executou o despejo do G.R.E.S. Cidade Jardim, por ordem judicial e com força policial.

O despejo, disfarçado de propósitos sociais, na verdade atende a interesses das oligarquias municipais e foi imediatamente repudiado pela comunidade do Conjunto Santa Maria, em manifestação por escrito chancelada pela associação do bairro.

Dia 09 de setembro de 2008, as lideranças populares e políticas descontentes com mais este ato de despotismo e de insensibilidade das autoridades diante dos valores culturais e históricos da cidade, se reuniram para debater o tema e redigiram o seguinte Manifesto.

Manifesto Cidade Jardim

Em defesa de uma das maiores riquezas nacionais: o samba

O carnaval ainda é a maior manifestação da cultura popular brasileira.

Feito de alegria e liberdade, duas forças irmãs que não podem ser separadas, tem por alimento o samba, uma das maiores riquezas nacionais.

O barracão das escolas de samba são as usinas de criação e produção dessa riqueza, única no mundo e genuinamente brasileira.

Nas últimas décadas observou-se o desmonte paulatino e sistemático das estruturas sociais e históricas que deram berço, vida, crescimento, exuberância e transcendência mundial ao carnaval brasileiro, no decorrer de quase todo o século passado.

O despejo da Escola de Samba Cidade Jardim de seu barracão é parte dessa estratégia, e não atinge somente uma propriedade social de tradição, o que por si já o torna um ato despótico uma vez que as comunidades atingidas não foram consultadas.

Deve ser visto como um atentado aos interesses nacionais e populares, e como tal deve ser encarado por todos os brasileiros que amam o samba e o Brasil.

Se concretizada a perda de seu barracão, será o fim da Escola de Samba Cidade Jardim.

E – por que não? – o precedente aberto para o fim das escolas de samba em todo o país, cujos barracões ocupem terrenos cobiçados pelas oligarquias locais.

O carnaval de Belo Horizonte já foi o segundo maior carnaval brasileiro. Nele brilharam músicos, passistas, bailarinas e artistas do samba que encheram de orgulho histórico e artístico não só a nossa cidade, mas, também, o nosso estado e todo o país.

Hoje, depauperado pela incúria e o descaso das administrações municipais, estaduais e federais, em particular as dos últimos dez anos, é um carnaval moribundo e não pode sequer reivindicar sua colocação entre os dez maiores. O fim da nossa principal e mais tradicional escola de samba poderá significar o golpe de misericórdia no nosso carnaval.

Para impedir que tal atentado se concretize, conclamamos o apoio e a solidariedade:

- de todas as escolas de samba de Belo Horizonte;

- de todas as escolas de samba de Minas Gerais;

- de todas as escolas de samba do Brasil;

- de todas as entidades vivas de cultura brasileira;

- de todos os brasileiros que não abrem mão do samba como alimento da alegria e da liberdade do nosso povo.

Pelo samba e as escolas de samba!

Pela cultura popular brasileira!

Pelo renascimento do autêntico carnaval no Brasil!

Belo Horizonte, 9 de setembro de 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário