O povo belorizontino está em luta mas ainda não está de luto: quer devolver a escola de samba mais premiada e vitoriosa de seus carnavais, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Cidade Jardim, ao tradicional galpão construído com seus próprios recursos, o qual ela ocupou durante mais de 30 anos no Conjunto Santa Maria, Zona Sul da cidade.
Em 19 de agosto passado, a Prefeitura, de surpresa e rompendo acordo feito 15 dias antes, executou o despejo do G.R.E.S. Cidade Jardim, por ordem judicial e com força policial.
O despejo, disfarçado de propósitos sociais, na verdade atende a interesses das oligarquias municipais e foi imediatamente repudiado pela comunidade do Conjunto Santa Maria, em manifestação por escrito chancelada pela associação do bairro.
Dia 09 de setembro de 2008, as lideranças populares e políticas descontentes com mais este ato de despotismo e de insensibilidade das autoridades diante dos valores culturais e históricos da cidade, se reuniram para debater o tema e redigiram o seguinte Manifesto.
Manifesto Cidade Jardim
Em defesa de uma das maiores riquezas nacionais: o samba
O carnaval ainda é a maior manifestação da cultura popular brasileira.
Feito de alegria e liberdade, duas forças irmãs que não podem ser separadas, tem por alimento o samba, uma das maiores riquezas nacionais.
O barracão das escolas de samba são as usinas de criação e produção dessa riqueza, única no mundo e genuinamente brasileira.
Nas últimas décadas observou-se o desmonte paulatino e sistemático das estruturas sociais e históricas que deram berço, vida, crescimento, exuberância e transcendência mundial ao carnaval brasileiro, no decorrer de quase todo o século passado.
O despejo da Escola de Samba Cidade Jardim de seu barracão é parte dessa estratégia, e não atinge somente uma propriedade social de tradição, o que por si já o torna um ato despótico uma vez que as comunidades atingidas não foram consultadas.
Deve ser visto como um atentado aos interesses nacionais e populares, e como tal deve ser encarado por todos os brasileiros que amam o samba e o Brasil.
Se concretizada a perda de seu barracão, será o fim da Escola de Samba Cidade Jardim.
E – por que não? – o precedente aberto para o fim das escolas de samba em todo o país, cujos barracões ocupem terrenos cobiçados pelas oligarquias locais.
O carnaval de Belo Horizonte já foi o segundo maior carnaval brasileiro. Nele brilharam músicos, passistas, bailarinas e artistas do samba que encheram de orgulho histórico e artístico não só a nossa cidade, mas, também, o nosso estado e todo o país.
Hoje, depauperado pela incúria e o descaso das administrações municipais, estaduais e federais, em particular as dos últimos dez anos, é um carnaval moribundo e não pode sequer reivindicar sua colocação entre os dez maiores. O fim da nossa principal e mais tradicional escola de samba poderá significar o golpe de misericórdia no nosso carnaval.
Para impedir que tal atentado se concretize, conclamamos o apoio e a solidariedade:
- de todas as escolas de samba de Belo Horizonte;
- de todas as escolas de samba de Minas Gerais;
- de todas as escolas de samba do Brasil;
- de todas as entidades vivas de cultura brasileira;
- de todos os brasileiros que não abrem mão do samba como alimento da alegria e da liberdade do nosso povo.
Pelo samba e as escolas de samba!
Pela cultura popular brasileira!
Pelo renascimento do autêntico carnaval no Brasil!
Belo Horizonte, 9 de setembro de 2008.
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